Acqua et umbra
Sob
as águas recém-detidas
à
sombra da oiticica
a
pequena rã coaxa
e
vislumbra entre os fios
da
água caída da estação celeste
um
canto orquestrado de tempo e trovão.
A
lua de março se entrevê
no
espelho singelo das poças
e
neste instante as lonjuras
das
águas primevas se inauguram
na
memória primitiva dessa
província anterior.
A
noite caminha para a comunhão
da
estrela no altar azul
de
uma distância quieta. Intocável.
Arte, magia
Ulisses alimentou com seu sangue
as
sombras do Hades.
Esse momento de humanidade promete
e
prometerá ainda no futuro
saciar a nossa sede de redenção.
Do
regresso e da descoberta
de
nós mesmos.
Visitaçao
O
meu olhar de morou
mas
por fim entreabriu
o
quadro emoldurado de luz e neblina
onde galopam os alazões da longa
e
enluarada noite dos meus mortos.
Por
campos de outrora
e
pelos campos do meu sonho agora
eles viajam e regressam num instante
enquanto demoramos em sua falta.
A vocaçao da poesia
Tudo que anseia regressar.
Nada do que nos chega sem sofreguidão.
O
cansaço dos astros, o abandono da tarde.
A
lembrança sem remédio.
A
hora antepassada, a dor futura.
A
adivinhação dos instantes.
Tudo que anseia regressar.
Poemas de Luciano Inmaia
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